No Brasil existe um antigo ditado que “religião e politica não se discute”. Mas quando a religião se mistura com a política, pode-se discutir?
Com muito alarde da mídia, um grupo de 16 mulheres evangélicas, incluindo pastoras e cantoras, fizeram uma reunião de oração nesta segunda-feira (15) no Palácio do Planalto. Estavam presentes a presidente Dilma Rousseff, a ministra chefe da Casa Civil Gleise Hofman, além do ministro Marcelo Crivella (Pesca e Aquicultura) e Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência.
Diversos jornais e redes de TV noticiaram o encontro como algo positivo, o Jornal Nacional chegou a dizer que era uma manifestação de apoio à presidente Dilma. Contudo, esse encontro pode esconder algo muito mais perigoso: a tentativa do governo em maquiar sua relação com os evangélicos.
Na eleição de 2010 ficou evidente que não seria possível a candidata Dilma se eleger sem contar com o apoio deles. José Serra exibiu em seus programas eleitorais declarações de voto de líderes influentes como Silas Malafaia e Valdemiro Santiago. A candidata Marina Silva, que ficou em terceiro lugar é missionaria da Assembleia de Deus e foi muito criticada dentro e fora do meio evangélico por suas posturas.
Uma breve retrospectiva dos acontecimentos que envolveram o deputado Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) nos últimos tempos remete à fala dele que fora embora tenha apoiado Dilma, foi traído pelo PT (partido aliado ao PSC) e que nas próximas eleições seria diferente. Feliciano também anunciou que em 2014 a bancada evangélica deve dobrar e terá uma força muito maior no cenário politico nacional.
Mês passado, quando foi divulgado uma reunião da presidente com ativistas LGBT e representantes da “Marcha das Vadias”, Feliciano usou sua conta no Twitter para questionar “Somos ou não somos invisíveis?”. A mensagem era direcionada ao pastor Silas Malafaia, que concordou que o governo petista havia se esquecido dos evangélicos.
Agora que o Palácio “lembrou” dos evangélicos, decide chamar para uma reunião de oração várias cantoras que não tem envolvimento político. Entre elas estava Ana Paula Valadão, pastora da igreja de onde virá o futuro presidente do Brasil segundo a revelação dada num culto no final do mês passado.
Embora não tenha sido revelado tudo o que foi falado nesse encontro, a imprensa divulgou que ocorreram apresentações musicais, entre elas a de Damares que cantou o hino “Sabor de Mel”, cuja letra diz: “Deus vai te levantar das cinzas e do pó”. A cantora acrescentou ainda que “Ela [Dilma] se emocionou algumas vezes, a gente chorou juntas. Foi muito positivo… Deus está restaurando a saúde dela, porque é um momento de muita pressão. O Brasil está vivendo um momento muito delicado, e nós viemos aqui representando a igreja evangélica no Brasil e apoiando ela no que ela precisar. A gente não veio pedir nada”.
O encontro foi “costurado” pelo ministro Crivella, que é bispo da IURD e cantor gospel, que se disse “um articulador da presidenta Dilma junto ao público com o qual eu convivo desde que tinha seis anos de idade, que é o público evangélico”. Ele justificou que “é dever da presidente governar para todos” e defendeu que não há dificuldades de interlocução entre Dilma e os evangélicos, mas que o encontro demorou a sair porque “a agenda da presidente é cheia.”. Declarou ainda que o encontro não teve pauta específica, e seria uma “demonstração de apoio e solidariedade”. Na verdade, foi noticiado que a reunião desta segunda-feira é parte da estratégia do governo para dar uma resposta às manifestações que tomaram conta das ruas em vários Estados nas últimas semanas.
Segundo Marco Feliciano, esse tipo de encontro está fora do se esperava da presidente. Ele, que também é cantor gospel, firmou que foi convidado, mas preferiu não ir. “Eu não tenho nada a tratar com essa gente. Ela (Dilma) só recebeu essas lideranças porque eu e Silas Malafaia fizemos pressão, mas isso era para ter ocorrido lá atrás, não agora, depois de ter conversado com várias outras lideranças políticas. A assessoria do Gilberto Carvalho até me ligou, mas preferi não atender”.
Estranhamente, Gilberto Carvalho é o mesmo que arranjou uma enorme confusão com os evangélicos ao declarar que o PT precisava travar uma “batalha” contra os “evangélicos conservadores que têm uma visão do mundo controlada por pastores de televisão”. Mesmo tendo se desculpado posteriormente, foi duramente criticado por líderes como o senador Magno Malta (PR/ ES) que o classificou de “safado”, “mentiroso”, “irresponsável”. Agora aparece sorridente ao lado das cantoras que pertencem a esse segmento que ele desejava combater.
Ou seja, é muito importante que os cristãos não se esqueçam de todos esses fatos para não se deixarem enganar por artimanha políticas. Sim, é importante que a presidente de um país governe para todos os grupos e que receba orações pedindo que Deus lhe dê sabedoria.
Agora não se pode negar que fica difícil acreditar nas intenções religiosas de alguém que, enquanto cidadã defendia o aborto, enquanto candidata prometeu não avançar com essa questão, mas enquanto presidente hesita em vetar uma proposta que pode significar a legalização do aborto no país. O mesmo vale para a questão do casamento gay, antiga bandeira do partido da presidente e para outras questões que se chocam frontalmente com os valores cristãos. Ah, é sempre bom lembrar que as recentes pesquisas mostram que a popularidade de Dilma nunca esteve tão baixa e essas mesmas pesquisas mostram o crescimento de Marina Silva, que é evangélica e conta com a simpatia de vários grupos políticos e religiosos conservadores.
Para muitos ela pode ser a principal rival da presidente nas eleições do ano que vem. Quando Dilma busca essa repentina aproximação com os evangélicos, não é difícil perceber (e considerando os fatos expostos acima) que ela está tentando mais uma vez enganar os evangélicos, que podem ser crentes mas não precisam ser crédulos demais.
Fonte: Gospel Prime