Por Lélia Chacon
O Instituto Desiderata, que atua em educação e saúde no Rio de Janeiro com ações de fortalecimento de políticas públicas voltadas a crianças e adolescentes, lançou na última sexta-feira, 13, um sistema digital de indicadores educacionais com dados territorializados sobre o ensino fundamental público na cidade.
Não é apenas mais um instrumento para monitorar a qualidade do ensino e direcionar as políticas governamentais e os investimentos privados para a área.
Trata-se de uma “lupa” virtual que permite à escola se ver entre seus pares, qualificando seu desempenho comparativamente àqueles com contexto cultural, econômico e social semelhante.
Não se coloca tudo no mesmo saco, o que pode ser um fator de desestímulo significativo quando se está na linha de frente para vencer carências educacionais de um país, um estado, uma cidade.
Mais ou menos como trabalho em grupo na escola: dois alunos ralam, três enrolam, e o resultado encobre as desigualdades – para o bem ou para o mal.
No caso da educação primária ou secundária, o resultado que esconde desigualdades é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb.
Os dados do mapa virtual lançado pelo Desiderata (disponíveis no site www.desiderata.org) têm referência no último Ideb, de 2009, mas o sistema oferece os indicadores desagregados por 33 regiões administrativas, 10 coordenadorias regionais de ensino e mais de 400 escolas de ensino fundamental do município do Rio de Janeiro.
Com essa “lupa geográfica”, e atualizada anualmente, é possível acompanhar de forma diferenciada, por exemplo, índices como os de rendimento (aprovação e reprovação) ou de situação dos alunos (abandono e distorção idade/série). Ações de melhoria ganham eficácia.
A motivação do Desiderata ao desagregar os indicadores educacionais tem a ver com a atenção especial que a organização dedica ao segundo segmento do ensino fundamental (a partir do 6º ano), com projetos como o Megafone na Escola, que começou em 2009.
A iniciativa, que envolve alunos, professores e diretores de 39 escolas públicas, ampliou a voz do ensino fundamental na agenda pública da educação no Rio de Janeiro. É importante porque essa fase escolar é considerada crítica.
A partir do 6º ano da educação básica, com vários professores, os alunos precisam ter mais organização e autonomia. O momento representa um gargalo no acesso ao ensino médio.
Um relatório recente do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostrou que dos jovens brasileiros de 14 a 17 anos que estão na escola mais da metade está fora do ensino médio.
Esse grupo tem média de anos de estudo de 7,4, quando o ideal seriam 12 anos. Ou seja, o jovem que deveria estar concluindo o ciclo médio sequer terminou o ensino fundamental.
Ao oferecer um olhar mais minucioso sobre o ensino fundamental, a iniciativa do Desiderata contribui para aquela postura que todos sabemos ser eficaz em casa ou na administração pública: para avançar em algo é preciso “pegar no pé”.
Informações desagregadas dão mais transparência, os atores envolvidos ganham identidade, as cobranças têm mais chance de chegar ao endereço certo e gerarem bons resultados.
*Lélia Chacon é jornalista e editora do site e revista Onda Jovem, do Instituto Votorantim
Fonte: Artigo publicado originalmente no jornal Brasil Econômico no dia 16/05/2011