O Rio Grande do Norte assumiu protagonismo e liderança nacional em produção de energia eólica e atingiu a autossuficiência. Em um patamar de capacidade produtiva superior a 5 Gigawatts (GW) e mais de R$ 21 bilhões de investimentos desde a instalação do primeiro parque, o RN é um destaque mundial no setor.
Mas há 15 anos o cenário era outro e o estado estava fora do mapa da energia eólica. Na primeira metade dos anos 2000, as características naturais que fazem o ambiente propício para a energia dos ventos encontraram solo fértil com gestão e planejamento.
Essa história começa no início da década de 2000, no governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Na época, a crise energética seguida de racionamentos, apagões, acendeu um alerta no Brasil, apontando para a necessidade de buscar o que se chamava de fontes alternativas de energia. Foi criado então Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa).
De acordo com o que explica Darlan Santos, presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia do Rio Grande do Norte (Cern), a iniciativa foi um primeiro passo, mas ainda não dava condições para a expansão do setor.
No Rio Grande do Norte, apesar do grande potencial, por muito tem tempo não se falava sobre o assunto. A produção de energia através do vento era ainda inviável economicamente, porém algumas pessoas já olhavam para o futuro e a enxergavam como uma grande possibilidade para o estado.
O Senador Jean, que à época tinha chegado ao RN para trabalhar com petróleo e prestava consultoria em solo potiguar, elaborou junto com a sua consultoria um planejamento estratégico estadual de energia, que foi entregue ao então governador Garibaldi Alves Filho. “Nessa época recebemos muita crítica, porque saiu no jornal e o pessoal dizia que era coisa de cientista, que não tinha viabilidade”, recorda o parlamentar.
Quando assumiu o Governo do Estado, Vilma de Faria resolveu resgatar o planejamento estratégico e tirar o plano do papel. O Senador Jean lembra que logo após isso a então governadora o chamou para compor os quadros do governo.
“A gente tinha a visão de que o Rio Grande do Norte possuía boas características para a produção eólica e que se tratava de um setor que, por causa da alta constante do petróleo após a Guerra do Iraque, ia se viabilizar com mais investimentos tecnológicos. Além disso, os estados do Brasil, também no início dos anos 2000 e com o fim do monopólio da produção de energia no país, passavam a ter um papel institucional para interagir com os órgãos nacionais e empresas privadas”, contou o senador.
Essa necessidade de estruturação estadual para lidar com o setor energético se dava, ainda segundo explica o parlamentar, pelo fato de que os entes federativos conseguiriam, assim, trazer os benefícios dos novos negócios para as suas comunidades.
Características do vento no RN
Em meio a essa organização institucional, o Rio Grande do Norte já despertava o interesse de investidores. Antes mesmo do primeiro leilão de energia, já havia empresas interessadas em fincar torres de aerogeradores no RN.
O motivo era o ambiente propício para o desenvolvimento da atividade. Darlan Santos explica que características geográficas e topográficas do estado contribuem para isso. De acordo com ele, os ventos alísios, que também são importantes para a produção salineira, são o principal fator. Além disso, esses ventos circulam em velocidade constante – média – e na mesma direção. “Tudo isso impacta na produção e contribui para que o Rio Grande do Norte seja um bom lugar para a produção de energia eólica”, acrescenta Santos.
O presidente do Cerne enfatiza ainda que no RN dá vento no litoral, na região serrana e também em áreas planas do interior, como é o caso da região do Mato Grande. “O que também é outro diferencial para o estado”, reforça.
A expansão da produção potiguar
Com o Proinfa, o Rio Grande do Norte recebeu os dois primeiros parques eólicos, em Guamaré e Rio do Fogo. Nessa época, não havia ainda leilões para o setor. O Programa do Governo Federal concedia incentivos para empresas se instalarem no Brasil e começarem a produzir.
O Senador Jean, que durante a instalação desses parques já atuava no Governo do Estado, recorda que esses primeiros projetos começaram a atrair a atenção de mais gente. Mas a cota do Proinfa havia acabado. “Nessa época começamos a lutar pela inclusão da eólica no leilão federal de energia”, conta.
Em diversos diálogos com Dilma Rousseff, então ministra de Minias e Energia, depois com Edison Lobão, no governo do ex-presidente Lula, Jean convencê-los da teoria de que o leilão teria muitos interessados.
Enquanto secretário, ele fez um cadastramento de todos os investidores que tinham intenção de construir parques eólicos no Rio Grande do Norte. Foi a primeira iniciativa dessa natureza em todo o país. Somente na expectativa da abertura do primeiro leilão, já havia intenção de instalação de projetos que somavam mais de 1 GW de produção. Já nos primeiros leilões, o RN foi campeão, o que mais colocou Megawatts.
Desde então, o setor só cresceu no Brasil, com protagonismo ao estado potiguar. Em outros tempos, os estados do Nordeste recebiam energia elétrica produzidas em outras regiões. Agora, como região com mais produção eólica, fornece energia para o restante do país.
Darlan Santos destaca que, na situação em que o Brasil está hoje com crise a hídrica, se não fosse a produção eólica os brasileiros já teriam enfrentado novos apagões e racionamentos, como aconteceu lá atrás, no final do governo FHC.
Os parques empregaram 35 mil potiguares desde a sua instalação e movimentam uma cadeia produtiva vinculada à produção principal em diferentes municípios do Rio Grande do Norte. São 193 empreendimentos em operação que geram 5,5 GW, com mais de 20 empresas instaladas no estado. O RN possui ainda 49 usinas eólicas em construção que, ao entrarem em operação, vão gerar mais 1,8 GW.
Além disso, o Rio Grande do Norte tem mais 79 contratados (3,1 GW), ou seja, projetos de parques já assegurados que terão sua construção iniciada futuramente, sem contar com os contratos do último leilão. Os dados são da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
FONTE: AGORA RN