Creio em Deus. Sou católico, apostólico, romano. Fiz minha primeira comunhão com cinco anos de idade. Cresci respeitando meu tio José, irmão da minha mãe, arcebispo de São Luís do Maranhão e de Fortaleza. Quando lembro, ainda rezo antes de dormir.
Posto isso, digo com o maior respeito ao Papa Francisco: ele pisou na bola. No avião que o levou, ontem, do Sri Lanka para as Filipinas, Francisco foi interrogado por um jornalista francês sobre o atentado contra o semanário Charlie Hbdo, que terminou com 12 mortos.
Sem mencionar especificamente o ataque ou o nome da publicação, o Papa disse que tanto a liberdade de expressão como a liberdade religiosa “são direitos humanos fundamentais”. Até aí, tudo bem. De fato, são direitos humanos fundamentais. Que mais?
Francisco acrescentou: “Temos a obrigação de falar abertamente, de ter esta liberdade, mas sem ofender. É verdade que não se pode reagir violentamente, mas se Gasbarri [ Alberto Gasbarri, responsável pelas viagens internacionais do Papa ], diz uma palavra feia sobre minha mãe, pode esperar um murro. É normal!”
Não. Não é normal que um Papa, logo um Papa, admita que possa revidar com um murro alguma ofensa à sua mãe. João Paulo II, por exemplo, visitou em sua cela o pistoleiro turco que tentou matá-lo no Vaticano. O Papa perdoou-o por tê-lo atingido com vários tiros.
Respeito todas as religiões. Sou contra ofensas a qualquer uma delas. Mas reconheço como um dos direitos fundamentais do ser humano a livre expressão. Ele é superior a qualquer ofensa. Deve-se punir uma ofensa com o rigor da lei. Com a morte, jamais.
O porta-voz de Francisco viu-se em apuros para explicar o que ele quis dizer. Por mais que tenha esgrimido bem com as palavras, não convenceu. Duvido que Francisco concorde com a morte como meio de se responder a uma ofensa. Mas foi a impressão que deixou.
Por Ricardo Noblat