Sentada em umas calçada no Centro do Recife, ela diz que não pede esmolas, mas aceita os trocados. Foto: Blenda Souto Maior/DP/D.A Press
Na face, quase não há mais espaço para rugas. Sem piedade, os “riscos” fazem sulcos profundos por onde passam, dão um ar de cansaço, refletem a quantidade do tempo vivido. Sentada em uma calçada do Centro do Recife, a idosa observa o movimento de pessoas ao mesmo tempo que maneja entre os dedos uma moeda dourada de R$ 0,25. Aos 100 anos, Anunciada Maria da Silva ainda vai para as ruas em busca de um dinheiro a mais para completar o orçamento de aposentada. Diz que não pede esmolas, pois nem estende as mãos. “As pessoas é que querem me dar um trocado, então, aceito”.
Com um caminhar sempre lento, costuma ser vista na frente das igrejas do Centro da capital, acompanhada do bisneto, um menino curioso de 11 anos chamado Micael Fabrício da Conceição. “Acredita não? Se quiser, vou buscar o documento dela em casa para provar que tem 100 anos”, dispara a criança, já se aprontando para partir. A casa, conta o menino, é um imóvel precário na Favela do Papelão, na Ilha Joana Bezerra.
A verdade, diz ela, é que ficar no Papelão o dia inteiro não dá. Por isso, conta que ganha as ruas com Micael. “Onde eu moro tem muito problema, coisa errada. Não dá pra deixar ele em casa sozinho. Por isso trago ele comigo. Venho me distrair também, mas já, já volto pra casa”, afirma. Antes disso, separa R$ 2,00 nas mãos e oferece à Nossa Senhora do Carmo, a padroeira do Recife. “Tá doido não guardar nada pra ela”, diz, depois de colocar o valor na caixa de oferendas da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, no bairro de Santo Antônio, no Centro do Recife.
Esperança
Anunciada conta que tinha 22 anos quando deixou Maraial, na Zona da Mata Sul, em direção ao Recife em busca de um futuro melhor. “A vida era muito difícil por lá, vivia de cortar cana e isso dava dinheiro não”, lembra. Na capital, as chances de melhoria seriam maiores, pensou. Foi então que decidiu ser cozinheira. Passou a vida trabalhando em bares. Passados 78 anos da data de chegada, os avanços na vida daquela mulher parecem ser quase nulos. Na cabeça de Anunciada, não é bem assim. “Conquistei minha casa”, fala.
O último censo do IBGE apontou que Anunciada integra o grupo de brasileiros que estão vivendo mais, em média 25 anos, se compararmos com a década de 60. Hoje, são três vezes mais brasileiros acima de 65 anos e quase trinta mil passaram dos 100 anos.
Fonte: Diário de Pernanbuco