NO 4º DIA, PAPA VISITA FAVELA, CRITICA CORRUPÇÃO E PEDE MAIS SOLIDARIEDADE

Pontífice visitou comunidade carente em Manguinhos e foi até Copacabana.
Francisco acenou aos fiéis, trocou solidéu e bebeu mate de um peregrino.

Papa Francisco ganhou de uma freira o colar com as cores da bandeira do Brasil (Foto: Luca Zennaro/AFP)

A chuva prejudicou parte dos eventos previstos com a presença do Papa Francisco no Rio de Janeiro. A missa e a vigília previstas para ocorrerem no Campo da Fé, Zona Oeste, tiveram de ser transferidas para Copacabana. Mas o frio e a chuva não espantaram os fiéis durante o quarto dia de permanência do pontífice no país. Francisco visitou a comunidade de Varginha, em Manguinhos, entrou na casa de alguns moradores e falou sobre corrupção e fé em discursos aos peregrinos. Em Copacabana, tomou mate de uma cuia e trocou de solidéu. “A fé de vocês é mais forte que o frio e a chuva”, disse Francisco.

Em sua chegada a Varginha pela manhã, o Papa Franciso recebeu um colar com as cores do Brasil, que ele vestiu sobre suas vestes sacerdotais. Antes de discursar em um campo de futebol, ele ainda visitou uma família da comunidade, permanecendo cerca de 10 minutos dentro da casa.

Eu falei: seja bem vindo Papa Francisco, a casa é sua. Ele respondeu que temos uma família linda e que já nos amava antes nos conhecer”, contou a dona de casa Maria da Penha dos Santos, uma das moradoras que recebeu o Papa na casa de número 81 na comunidade.

Francisco falou sobre corrupção em discurso na comunidade e pediu aos jovens que “nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança” frente as “notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício”.

“A realidade pode mudar, o homem pode mudar. Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostumarem ao mal, mas a vencê-lo”, afirmou o pontífice.

Por volta das 17h30, Francisco chegou de helicóptero ao Forte de Copacabana e, de papamóvel, percorreu o trajeto do Posto 6 até o Leme.

Pelas ruas de Copacabana, o papa chegou a trocar seu solidéu branco por um oferecido por um peregrino e tomou um chimarrão esticado a ele por um dos fiéis ao papamóvel. Sempre sorridente, o Papa acenou e beijou crianças pelo caminho.

Na cerimônia de acolhida aos jovens, ele citou seus antecessores, João Paulo II e Bento XVI e pediu um minuto de silêncio em homenagem à estudante Sophie Morinière, que morreu em um acidente na Guiana Francesa em um acidente de um ônibus de peregrinos que vinham para a Jornada Mundial da Juventude na última quarta (17).

“Sempre ouvi dizer que o carioca não gosta de frio e de chuva. A fé de vocês é mais forte que o frio e a chuva. Parabéns!”, disse o Papa, que foi aplaudido. Ele também assistiu à apresentação com a participação da cantora Fafá de Belém, que beijou as mãos do pontífice.

“Bote fé, bote esperança e bote amor”, disse também Papa Francisco durante uma homilia.

Mais cedo, o Papa também recebeu uma camisa da seleção brasileira de presente e abençoou esportistas em cerimônia fechada no Palácio da Cidade, na Zona Sul. Ele recebeu uma camisa do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) das mãos do presidente da entidade, Carlos Arthur Nuzman, e deu a bênção a atletas como o ex-jogador de basquete Oscar Schmidt, que luta contra um câncer no cérebro.

A missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude que estava prevista para domingo (28) no Campo da Fé, em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio, foi transferida para a Praia de Copacabana, na Zona Sul.

A vigília que ocorreria no sábado também mudou de lugar. Segundo o Comitê Organizador da JMJ, o mau tempo tornou a realização impraticável, já que o local amanheceu tomado por lama nesta quinta (25). A informação foi confirmada pelo arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta.

‘Mundo mais justo e mais solidário’
Francisco afirmou ainda que os brasileiros podem “dar para o mundo uma grande lição de solidariedade” e pediu “aos que possuem mais recursos, às autoridades públicas e a todas as pessoas de boa vontade comprometidas com a justiça social” que “não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário”.

“Quero encorajar os esforços que a sociedade brasileira tem feito para integrar todas as partes do seu corpo, incluindo as mais sofridas e necessitadas, através do combate à fome e à miséria. Nenhum esforço de ‘pacificação’ será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma”, disse.

‘Somos pobres, pequenos, esquecidos’
Francisco ouviu com atenção o discurso de boas vindas de um jovem de Varginha, que disse que a visita à comunidade marcará a vida de todos os moradores. “A sua vida, Pai Francisco, nos levou à mídia nacional e internacional”, afirmou o jovem, “mas desta vez não nas páginas policiais”. Ele lembrou que, depois do anúncio de que o Papa visitaria Varginha, ruas foram asfaltadas, lixeiras foram melhor distribuídas e outras melhorias foram feitas. “Esperamos que isso continue”, disse ele. “Somos pobres, pequenos, esquecidos”, afirmou o jovem da comunidade.

Leia a íntegra da homilia do Papa em Copacabana:

“Jovens amigos,

‘É bom estarmos aqui’, exclamou Pedro, depois de ter visto o Senhor Jesus transfigurado, revestido de glória. Queremos também nós repetir estas palavras? Penso que sim, porque para todos nós, hoje, é bom estar aqui juntos, unidos em torno de Jesus! Ele que nos acolhe e se faz presente em meio a nós, aqui no Rio.

Mas, no Evangelho, escutamos também as palavras de Deus Pai: ‘Este é o meu Filho, Escutai-o’. Então, se por um lado é Jesus quem nos acolhe, por outro também nós devemos acolhê-lo, ficar à escuta da sua palavra, pois é justamente acolhendo a Jesus Cristo, palavra encarnada, que o Espírito Santo nos transforma, ilumina o caminho do futuro e faz crescer em nós as asas da esperança para caminharmos com alegria.

Mas o que podemos fazer? ‘Bote fé!’ A Cruz da Jornada Mundial da Juventude peregrinou através do Brasil inteiro com este apelo. ‘Bote fé!’ O que significa? Quando se prepara um bom prato e vê que falta o sal, você então ‘bota’ o sal; falta o azeito, então ‘bota’ o azeite… ‘Botar’, ou seja, colocar, derramar. É assim também na nossa vida, queridos jovens: se queremos que ela tenha realmente sentido e plenitude, como vocês mesmos desejam e merecem, digo a cada um e a cada uma de vocês: ‘bote fé’ e a vida terá um sabor novo, terá uma bússola que indica a direção; ‘bote esperança’ e todos os seus serão iluminados e o seu horizonte já não será escuro, mas luminoso; ‘bote amor’ e a sua existência será como uma casa construída sobre a rocha, o seu caminho será alegre, porque encontrará muitos amigos que caminham com você. ‘Bote fé, bote esperança, bote amor!’

Mas quem pode nos dar tudo isso? No Evangelho, escutamos a resposta: Cristo. ‘Este é o meu Filho, o Eleito. Escutai-O!’ Jesus é Aquele que nos traz a Deus e que nos leva a Deus; com Ele toda a nossa vida se transforma, se renova e nós podemos olhar a realidade com novos olhos, a partir da perspectiva de Jesus e com seus olhos. Por isso, hoje, lhes digo com força: ‘Bote Cristo’ na sua vida e você encontrará um amigo em quem sempre confiar; ‘bote Cristo’, e você verá crescer as asas da esperança para percorrer com alegria o caminho do futuro; ‘bote Cristo’ e a sua vida ficará cheia do seu amor, será uma vida fecunda.

Hoje, queria que nos perguntássemos com sinceridade: em quem depositamos a nossa confiança? Em nós mesmos, nas coisas, ou em Jesus? Sentimo-nos tentados a colocar a nós mesmos no centro, a crer que somos somente nós que construímos a nossa vida, ou que ela se encha de felicidade com o possuir, com o dinheiro, com o poder. Mas não é assim! É verdade, o ter, o dinheiro, o poder podem gerar um momento de embriaguez, a ilusão de ser feliz, mas no fim das contas, são eles que nos possuem, e novas a querer ter sempre mais a nunca estar saciados. ‘Bote Cristo’ na sua vida, deposite n’Ele a sua confiança e você nunca se decepcionará! Vejam, queridos amigos, a fé realiza a nossa vida uma revolução que podíamos chamar copernicana, porque nos tira do centro e o restitui a Deus; a fé nos imerge no seu amor que nos dá segurança, força, esperança. Aparentemente não muda nada, mas, no mais íntimo de nós mesmos, tudo muda.

No nosso coração, habita a paz, a mansidão, a ternura, a coragem, a serenidade e a alegria, que são os frutos do Espírito Santo e a nossa existência se transforma, o nosso modo de pensar e agir se transforma, o nosso modo se renova, torna-se o modo de pensar e de agir Jesus, de Deus. No Ano da Fé, esta Jornada Mundial da Juventude é justamente um dom que nos é oferecido para ficarmos ainda mais perto de Deus, para ser seus discípulos e seus missionários, para deixar que Ele renove a nossa vida.

Querido jovem: ‘bote Cristo’ na sua vida. Nestes dias, Ele lhe espera na palavra: escute-O com atenção e o seu coração será inflamado pela sua presença; ‘Bote Cristo: Ele lhe acolhe no Sacramento do perdão, para curar, com a sua misericórdia, as feridas do pecado. Não tenham medo de pedir perdão a Deus. Ele nunca se cansa de nos perdoar, como um pai que nos ama. Deus é pura misericórdia! ‘Bote Cristo’: Ele lhe espera no encontro com a sua Carne na Eucaristia, Sacramento da sua presença, do seu sacrifício de amor, e na humanidade de tantos jovens que vão lhe enriquecer com a sua amizade, lhe encorajar com o seu testemunho de fé, lhe ensinar a linguagem da caridade, da bondade, do serviço. Você também, querido jovem, pode ser uma testemunha jubilosa do seu amor, uma testemunha corajosa do seu Evangelho para levar a este mundo um pouco de luz.

‘É bom estarmos aqui’, botando Cristo na nossa vida, botando a fé, a esperança, o amor que Ele nos dá. Queridos amigos, nessa celebração acolhemos a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Com Maria, queremos ser discípulos e missionários. Como ela, queremos dizer ‘sim’ a Deus. Peçamos ao seu coração de mãe que interceda por nós, para que os nossos corações estejam disponíveis para amar a Jesus e fazê-lo amar. Ele está esperando por nós e conta conosco! Amém.”

Fonte: Do G1, no Rio de Janeiro

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